terça-feira, 3 de março de 2009

Minhas raízes musicais

A história começa no Inglaterra do século XVII, quando um grupo de seguidores de Jesus Cristo (o nome batista vem de batismo, e batismo por imersão, a exemplo de João Batista, que assim foi batisado por Jesus) foi para a Amsterdãn e lá fundou a Igreja Batista. Depois da morte de um dos fundadores, parte do grupo voltou para a Inglaterra, onde o grupo cresceu.

Com a descoberta de Colombo e a consequente imigração, a primeira igreja batista nos Estados Unidos foi fundada em 1639 na parte sul do novo mundo. A Guerra Civil Americana (Guerra de Secessão) dividiu aquela país em duas partes: a do sul - aristocrata, latifundiário e defensor da escravidão; e a parte norte, industrializada e, até por conta disso, onde a escravidão tinha um peso bem menor. Bom, como Marx e seu Capital são bem anteriores a tudo isso, é óbvio que interesses econômicos norteavam todos os outros interesses. 970 mil pessoas morreram nessa guerra - quase 3% da população do país na época - e um enorme contingente emigrou, inclusive para o Brasil. A maioria era sulista, tradicionalista, muito ligada à terra, aos costumes, às heranças familiares.

Em 1867, 50 mil norte americanos chegaram à Santa Bárbara d'Oeste - bem aqui do lado de Nova Odessa, distante uns 15 km - onde foi organizada a primeira igreja Batista brasileira. A vila americana mais tarde veio chamar-se Americana, hoje um dos maiores pólos têxteis do Brasil. 

Mais uma vez obedecendo um mandamento de Jesus ("ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura" Marcos 16:15) a igreja Batista trouxe milhares de missionários norte americanos para o Brasil e assim cresceu por aqui. E viva essa misturança que é o nosso Brasil!!!

Quando eu nasci a coisa já estava bem adiantada, vocês imaginam. 
Eu sou parte da quarta geração de batistas da minha família. Meus bisavós italianos e portugueses se converteram quando chegaram no Brasil, em São Paulo e Campinas.

Desde a mais tenra idade (eu sempre ouvia isso dos pregadores  quando era criança!) eu via missionários norte americanos nas nossas igrejas pregando aqueles sermões enormes, todos com tradução simultanea, o que deixava o sermão com o dobro de duração! Na verdade os sermões deviam durar cerca de 60 minutos em média, mas um menino de 10 anos, derretendo de calor no banco da igreja quer mais é que o culto acabe logo pra ir correr com os amigos pra salinha lá no fundo beber o que sobrou da ceia! Sim, fiz isso muitas vezes! E como era bom o gosto daquele suco de uva sem açúcar nas tacinhas de vidro!!! 

Eu sempre ficava muito empolgado quando o sermão acabava pois era a hora da distribuição das "lembrancinhas" que os americanos traziam. Eram bottons, chaveiros, canetas, adesivos, smiles de tudo que é tipo, cor, tamanho e cheiro. Hoje eu traço um paralelo muito forte disso com a catequese à qual os portugueses submetiam os índios no Brasil colônia. 

A música sempre me chamou atenção. Muito imponente, vibrante, ensaiada, bonita de se ver e ouvir. Meu pai foi ministro de música durante uns 20 anos nas igrejas Batista Central de Campinas e na Primeira Igreja de Sumaré; ele regia o coral e cuidava de toda parte musical. A influência foi muito forte. Ao contrário da maioria dos meus amigos eu nunca me liguei muito na música popular brasileira até começar a estudar saxofone. Meu primeiro contato com um intrumento foi tocando flauta doce com um professor na igreja, mas o foco era totalmente outro. O saxofone despertou meu desejo mais tarde quando passei a ve-lo nos momentos musicais do culto. A isso somou-se a necessidade de eu nadar e tocar um instrumento de sopro pra combater a bronquite que acabava com  as minhas noites. E as dos meus pais também!

Em Santa Bárbara há um cemitério americano onde as famílias mais tradicionais enterram seus entes queridos. Ele é  bem parecido com os dos filmes, com aquele gramado bem verdinho e cruzes brancas. Fica afastado, no meio de um canavial, onde creio eu, os primeiros americanos se sentiam mais perto da sua terra, dos seus costumes.  Todo ano há uma festa organizada pela comunidade americana. Numa dessas festas aconteceu uma das minhas primeiras apresentações públicas, junto com meu pai ao piano, minha irmã tocando flauta transversal e meu irmão tocando trompa. Minha mãe não quis cantar de jeito nenhum!

Aí estão alguns exemplos do que eu ouvi na igreja durante minha infância e adolecência:



Música tipicamente do sul norte americano. O estilo stride no piano, a alternância de uma mesma melodia com letras diferentes a cada estrofe com um refrão sempre igual. A harmmonia também bem peculiar com modulações ascendentes de meio em meio tom. Reparem na instrumentação com banjos, violinos e guitarras de saloon. É o Texas todinho!
Ah... o nome do baixo é George Younce, a segunda voz mais grave que se tem registro. A mais grave é a daquele cara que cantava com o Elvis Presley, não sei o nome dele.





Os batistas têm muita tradição em música coral, quase sempre com uma estrutura bem grande de produção e muitas super-produções em relação aos tamanhos das igrejas. Eu mesmo já fui operador de luz e som em várias cantatas de Páscoa e Natal, as mais importantes datas para o cristianismo. Além de cantar em vários corais, claro.

Atualmente as coisas astão mais assim:


Aliás, Providence (onde está a igreja desse vídeo) foi onde os primeiros batistas vindos da Inglaterra se instalaram nos Estados Unidos.

2 comentários:

Ila disse...

Olha só! E eu não sabia de nada disso... viu como é legal ser blogueiro? Hehehe...

E como vc escreve bem! Gostei muito do texto. Cheio de informações e super gostoso de ler.

Beijinho pra vcs aí. E venham logo, pôxa!

Graziela Esteves disse...
Este comentário foi removido por um administrador do blog.